07/06/08

Augusto Costa - Entrevista ao Jornal de Ovar

A Crecor terminou na 3ª posição da Série B da III Divisão Nacional. É um bom ou mau resultado?
Seria melhor se ficássemos em primeiro ou segundo lugar, no entanto, atingimos os principais objectivos, manutenção e a melhor classificação e pontuação de sempre da Crecor, inclusive, fomos o melhor terceiro classificado da III divisão nacional, obtendo mais pontos que a maioria das equipas que subiram de divisão nas outras séries. Temos de dar mérito às duas equipas que ficaram à nossa frente, porque têm excelentes jogadores e porque pertencem a cidades com maior poder económico e político.

O 3º lugar enquadra-se nos objectivos traçados no início da temporada pela Direcção e equipa técnica?
Como já foi referido superamos os resultados das últimas épocas da Crecor e isto enquadra-se nos objectivos traçados, manutenção e melhorar a classificação final em relação às épocas anteriores. A subida também era um objectivo, o mais difícil, mas, como a Crecor, muitas mais equipas e com maior capacidade económica almejavam esse “sonho” e ficaram atrás da nossa equipa com uma diferença pontual muito significativa.

Enquanto técnico, que balanço faz da caminhada da Crecor?
Penso que fizemos um excelente campeonato, quer em termos desportivos, como na divulgação da modalidade e da nossa região. A equipa da Crecor granjeou simpatia e respeito desportivo e deixou a sua marca nos Campeonatos Nacionais de Futsal, pela qualidade de jogo evidenciada e pela postura de grande desportivismo. Em termos de resultados, considero que apenas tivemos dois jogos em que devíamos ter feito melhor, a única derrota em casa, com o S. João, que foi fruto de uma arbitragem deplorável e a derrota no Barranha onde não estivemos bem. É verdade que morremos na praia mas também é inegável que as equipas do Viseu e do Gondomar foram e são mais fortes política e economicamente que a Crecor, para além de possuírem excelentes jogadores, quase todos com experiência de primeira e segunda divisão nacional. Logo no inicio da época vaticinei a subida para estas duas equipas, porque fizeram grandes investimentos e adquiriram excelentes jogadores. Acreditava que poderíamos ser uma surpresa para o campeonato, ao contrário de alguns comentários que afirmavam que eu não passava da quarta jornada à frente da Crecor. Superámos as expectativas de muita gente, porque eu como treinador era fraco e sem currículo, porque as outras equipas se assumiram como candidatas à subida de divisão e eram mais fortes, porque, covardemente, a minha imagem foi denegrida e os atletas da Crecor foram assediados para não jogar na Crecor comigo a treinador, quando estes já tinham assumido um compromisso com o clube. Ultrapassamos estes problemas e tivemos de construir um novo modelo de jogo e uma forma diferente de estar no futsal. Evoluímos para um futsal mais moderno e menos empírico, rejuvenescemos o plantel, construímos uma equipa mais equilibrada e competitiva, onde, só os dois “tubarões”, Gondomar e Viseu conseguiram ser melhores do que nós… Portanto, a minha análise diz-me que a Crecor está mais competitiva e com melhores níveis de rendimento…

Apesar de, publicamente, ser passada a ideia de que a manutenção era o principal objectivo, é inegável que havia a expectativa da subida entre os responsáveis e adeptos da Crecor, um desejo não tem sido alcançado por muito pouco nos últimos anos. Acha que a equipa tinha, este ano, qualidades para ir mais longe, ou seja, para subir de divisão?
Todas as equipas desejam a melhor classificação, no entanto, deve existir alguma coerência na definição dos objectivos desportivos, em conformidade com os seus recursos. A Crecor construiu o seu plantel com o desejo de o rejuvenescer e de o tornar mais equilibrado e mais competitivo. Logo, perspectivávamos um melhor desempenho e uma consequente melhor classificação. Em contrapartida, com uma equipa técnica nova foi necessário um período de adaptação mais alargado para que o novo modelo de jogo fosse assimilado. Em consequência da reestruturação da equipa de futsal, havia alguma imprevisibilidade quanto ao seu rendimento em competição. Daí que assumir claramente a subida de divisão seria uma ousadia despropositada. Fazendo uma retrospectiva acredito que esta equipa na época passada tinha subido de divisão, mas os adversários deste ano foram diferentes, basta olhar para a diferença de pontuação que existe entre os três primeiros classificados e os restantes.

Os dois lugares que dão acesso à subida estão, na sua opinião, bem entregues ao Viseu e ao Gondomar?
Claro, pelas razões já denunciadas.

Que aspectos positivos e negativos destaca desta época?
Os aspectos positivos foram a regularidade da equipa, a sua coesão e humildade, assim como, a excelente prestação nos jogos em casa. Os aspectos negativos foram os resultados desnivelados que tivemos em alguns jogos, na situação de visitantes, em que fomos atrevidos de mais e pagámos caro o atrevimento de queremos jogar sempre com a iniciativa do jogo. Acredito que em alguns jogos se fossemos mais comedidos não tínhamos perdido. Mas valeu para o espectáculo, ao contrário de muitas equipas que quando jogavam connosco só se preocupavam em defender.

A falta de eficácia na finalização tem sido, nos últimos anos, uma das principais lacunas da equipa. Considera que foi um dos aspectos que menos funcionou em 2007/08?
Não sou dessa opinião, nós marcamos em média 4 a 5 golos por jogo, o que é uma boa eficácia. É claro que não temos um aproveitamento a 100%, e ninguém o tem. Acho que o problema da Crecor estava e ainda esteve, nesta época, na eficácia defensiva, sofremos, em média, mais de 3 golos por jogo. Foi neste aspecto que trabalhámos muito durante a época e os resultados foram visíveis, porque na primeira volta marcamos 55 e sofremos 45 golos, fomos a terceira melhor equipa do campeonato, já na segunda volta, fomos a segunda melhor equipa com 52 golos marcados e 34 golos sofridos. De facto, a maioria dos jogadores da Crecor estavam habituados a defender individualmente, com acompanhamentos em todo o campo e sofriam bastantes golos. Esta época houve algumas alterações no método defensivo e com o avançar da época a equipa começou a ter maior consistência defensiva e a melhorar a sua eficácia na transição ataque/defesa. É claro que a eficácia ofensiva também poderia ter sido melhor em alguns jogos, mas não foi por isso que perdemos pontos… Eu acredito na teoria que diz “o ataque ganha jogos e a defesa ganha campeonatos”.

Acredita que se a Crecor estivesse noutra série teria mais possibilidades de subir de escalão?
Afirmar que se jogássemos noutra série tínhamos subido de divisão é descabido, assim como, tenho a certeza que se o campeonato fosse repetido com as mesmas equipas as classificações não seriam as mesmas. Cada jogo é constituído por diversos factores e em momentos diferentes, lesões, castigos, cansaço, etc. Por isso é que o resultado dos jogos desportivos colectivos são mais imprevisíveis que o dos desportos individuais, com a agravante de existir, constantemente, um julgamento subjectivo de factos (árbitros). Agora, olhando para a pontuação da Crecor e comparando com as outras séries, pode-se especular que a Crecor subia de divisão se estivesse noutra série.

Em termos pessoais, vai continuar na Crecor na próxima época? Já houve abordagem da Direcção nesse sentido?
A Direcção da Crecor está a tratar do futuro das equipas de futsal, tenho a certeza disso. Quanto a eu ficar tudo vai depender da vontade da Direcção. Eu gostava muito de continuar a pertencer ao projecto da Crecor mas a decisão, infelizmente, não depende só de mim.

Foi uma aposta ganha vir para Cortegaça?
Em termos pessoais, claro que foi, aprendi muito com os meus jogadores e com as diferentes situações que vivi. Sinto que estou mais preparado para enfrentar novos desafios e de certeza que não voltarei a cometer os mesmos erros. Tive a sorte de ter como adjunto, o Philip Campos, com o qual eu nunca tinha trabalhado e que revelou-se um homem inteligente, de confiança e bastante competente. Aprendi muito com ele e não preciso de lhe agradecer publicamente porque ele sabe o quanto o estimo. Seria injusto não falar da colaboração do Marcos e do Rui, foram dois companheiros desta viagem a quem eu devo os meus agradecimentos. Sinto e senti muito orgulho em trabalhar neste clube e aproveito para agradecer também à Direcção a confiança que depositaram em mim e a disponibilidade que sempre tiveram para colaborar com a equipa. Agora, se fui um elemento válido para o clube só a Direcção, os atletas, os sócios, os simpatizantes, os espectadores e a comunicação social é que podem avaliar o meu desempenho.

O clube dá as condições certas para se trabalhar?
Hoje, a Crecor é um clube apetecível, quer pelos jogadores como pelos treinadores, devido ao nível de qualidade e confiança que tem apresentado ao longo das últimas épocas. Julgo que a estrutura e a organização da secção de futsal da Crecor são um bom exemplo a seguir pela maioria das equipas. Assumem com realismo as suas possibilidades e cumprem na íntegra com as suas responsabilidades. Têm um projecto coerente, fiável, sustentável e progressivo que assenta em premissas bem estruturadas e bem direccionadas para o interesse da comunidade, do clube e dos atletas. Já trabalhei em clubes de divisões superiores à Crecor, da I e II Divisão Nacional, e confirmo que não tinham melhores condições de trabalho. É claro que a Direcção está atenta e acredito que tudo fará para melhorar, ainda mais, a organização e a estrutura da secção de futsal do clube.

Sem comentários: